domingo, 12 de junho de 2016

Segunda - conto #2 "O Senhor Brecht – Gonçalo M. Tavares"

Hoje vou publicar dois pequenos contos do livro " O Senhor Brecht – Gonçalo M. Tavares". Espero que vocês gostem! <3


Um país agradável

ERA UM PAÍS muito agradável para viver, mas as pessoas eram tão
preguiçosas que, quando o presidente ordenou que defendessem as fronteiras,
eles bocejaram. Foram invadidos.
Os invasores também começaram a ficar preguiçosos e, um dia, quando o
novo presidente ordenou que os homens defendessem as fronteiras, todos
bocejaram. Foram de novo invadidos. Agora por homens vindos de um outro
país.
Mais uma vez os invasores em pouco tempo ficaram preguiçosos, e quando
pela terceira vez um novo presidente ordenou que os homens defendessem as
fronteiras, todos bocejaram. Mais uma vez foram invadidos. O país estava cada
vez mais populoso.
Tal repetiu-se até que todos os povos – mesmo os que vinham do outro lado
do globo – haviam já invadido aquele país, e depois, sucessivamente, sido
invadidos. Já não havia gente em mais lado nenhum: concentravam-se todos
naquele país agradável.
Foi nessa altura que o novo presidente ordenou a invasão do resto do mundo
pois o mundo estava completamente vazio – à sua mercê, portanto. Porém, todos
os homens bocejaram.
E então ele (sem o notar) avançou, sozinho.

<3

O cantor

UM PÁSSARO foi atingido com um tiro na asa direita e passou por isso a
voar na diagonal.
Mais tarde foi atingido na asa esquerda e viu-se obrigado a deixar de voar,
utilizando apenas as duas patas para andar no chão.
Mais tarde foi atingido por uma bala na pata esquerda e passou por isso a
andar na diagonal.
Uma outra bala atingiu-o, semanas depois, na pata direita, e o pássaro
deixou de poder andar.
A partir desse momento dedicou-se às canções.

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Sobre o livro "Temporada de acidentes" Moïra Fowley-Doyle (5/5)

"Temporada de Acidentes" é um desses livros que chamam atenção tanto pela capa (e lá vem na cabeça aquela frase que ninguém conhece: Não julgue um livro pela capa) e, também, pela sinopse. Assim que eu vi esse livro nos lançamentos da Intrínseca fiquei louca com vontade de ver se ele era tudo o que parecia ser. Posso dizer que é sim. Para mim foi uma leitura muito, muito boa. Minhas expectativas não se frustraram, mas foram com exito alcançadas. Vamos à sinopse:

Guardem as facas, protejam as quinas dos móveis, não mexam com fogo. 
A temporada de acidentes vai começar.
Acontece todo ano, na mesma época. Todo mês de outubro, inexplicavelmente, Cara e sua família se tornam vulneráveis a acidentes. Algumas vezes, são apenas cortes e arranhões. Em outras, acontecem coisas horríveis, como quando o pai e o tio dela morreram. A temporada de acidentes é um medo e uma obsessão. Faz parte da vida de Cara desde que ela se entende por gente. E esta promete ser uma das piores.
No meio de tudo, ainda há segredos de família e verdades dolorosas, que Cara está prestes a descobrir. Neste outubro, ela vai se apaixonar perdidamente e mergulhar fundo na origem sombria da temporada de acidentes. Por que, afinal, sua família foi amaldiçoada? E por que não conseguem se livrar desse mal?
Uma narrativa sombria, melancólica e intensa sobre uma família que precisa lidar com seus segredos e medos antes que eles a destruam.

Gente, quanto amor por esse livro. A narrativa da autora é linda, poética, um tanto melancólica e repleta de significações ricas. A história possui alguns elementos de fantasia que tornam tudo ainda mais agradável, detém uma rica trama que te mergulha no mistério, segredos que aos poucos, enquanto são revelados, fazem com que tudo entre numa espiral de dúvidas. Você simplesmente não sabe se tudo acontece realmente por uma maldição ou por algo mais. É incrível.



O livro também conseguiu muito fazer com que minha imaginação rolasse solta, todos os cenários e personagens foram tão bem trabalhados e descritos (sem que para isso ficasse uma leitura enfadonha) que até hoje guardo “recordações” desse livro sem nem ter, de fato, pisado nos lugares relatados. Só uma boa narrativa consegue isso. Há partes onde sinceramente me senti vendo um filme. Quando as personagens passam dos limites no consumo de drogas e tudo parece embaçado e atordoado, consegui visualizar tudo isso. Enfim, é incrível.
  

Honestamente, é uma leitura que eu gostei muito. Apeguei-me aos romances, aos dramas, aos mistérios, as partes fantásticas que te dão um gosto de horror, a  tudo, tudo! Gente leiam esse livro! Urgente! Agora, agora! 

Só há, de fato, uma coisa que me incomoda na história e na construção da conduta dos personagens, é a forma "vida loka" que os adolescentes nesse livro são retratados num uso tão abusivo de drogas (licitas ou não), que me deixava ao tempo todo estarrecida  e também intrigada. Os jovens (normalmente) usam tantas drogas assim? Sou tão E. T. quanto pareço?

No skoob? 5 estrelas e favoritado!


quarta-feira, 8 de junho de 2016

Sobre o livro: Fiquei com o Seu Número - Sophie Kinsella (5/5)

Fiquei com seu número foi o primeiro livro da Sophie Kinsella que eu li e nossa, amei mesmo! Foi um leitura muito prazerosa, e, apesar do livro não ser tããão pequeno ele flui que é uma beleza... Mas, antes de eu começar a escrever um monte sobre o livro, vamos à sinopse:

A jovem Poppy Wyatt está prestes a se casar com o homem perfeito e não podia estar mais feliz... Até que, numa bela tarde, ela não só perde o anel de noivado (que está na família do noivo há três gerações) como também seu celular. Mas ela acaba encontrando um telefone abandonado no hotel em que está hospedada. Perfeito! Agora os funcionários podem ligar para ela quando encontrarem seu anel. Quem não gosta nada da história é o dono do celular, o executivo Sam Roxton, que não suporta a ideia de haver alguém bisbilhotando suas mensagens e sua vida pessoal. Mas, depois de alguns torpedos, Poppy e Sam acabam ficando cada vez mais próximos e ela percebe que a maior surpresa da sua vida ainda está por vir.

Poppy é a personagem principal desse livro (como deve ter dado para perceber), ela é Destrambelhada, engraçada, um tanto paranoica, bisbilhoteira e super simpática, e eu  acabei me identifiquei um bocadinho com ela. Nunca na história dos livros que eu li senti tanta vergonha alheia quanto nesse e não só vergonha, me surpreendi várias vezes durante a leitura a ponto de sentir minhas sobrancelhas arquearem.  Kinsella conseguiu me prender muito no enredo e, além disso, surpreender durante o desenrolar da história porque, como o livro todo é na visão da Poppy nós nos influenciamos e acabamos, muitas vezes – ao menos aconteceu comigo – nos deixando levar pelas opiniões e conclusões dela.

E o romance nesse livro? Ah, amo romances que trazem trocas de mensagem, porque para mim torna-se muito real, principalmente nos dias de hoje em que sempre estamos com os celulares nas mãos conversando, xeretando a vida de alguém, atualizando nossos perfis e redes sociais ou só disfarçando com ele nas mãos. Não é verdade?
Enfim, eu acredito que super vale a leitura desse livro para sair das depressões literárias passadas (correndo um risco enorme de entrar em outra por causa desse livro) e para quem deseja rir um bocado, (mesmo que eu tenha sentido vontade de chorar em alguns momentos pela empatia que criei com Poppy.)esse livro é a pedida certa. Enfim, amei, amei e amei! Dei 5 estrelas no Skoob e favoritei!

Ps: O que são as notas de rodapé que a Poppy escreve? Meu Deus eu ri de mais com elas! Parar a leitura para ler a notas torna a história muito, muito mais agradável e intima!
<3


quinta-feira, 2 de junho de 2016

Segunda Conto #1 - O que a lua traz consigo - H. P. Lovecraft

Começando um novo tipo de postagens que me comprometo a toda semana dar prosseguimento, ou seja, todas as segundas colocarei um novo conto por aqui. Para os apreciadores de histórias curtas e também como forma de indicar um livro de contos para os que gostam ou aos que desejam se aventurar nesse gênero. Vamos lá? 


O que a lua traz consigo 
- H. P. Lovecraft


ODEIO A LUA — tenho-lhe horror — pois às vezes, quando ilumina cenas familiares e queridas, transforma-as em coisas estranhas e odiosas.



Foi durante o verão espectral que a lua brilhou no velho jardim por onde eu errava; o verão espectral de flores narcóticas e úmidos mares de folhagens que evocam sonhos extravagantes e multicoloridos. E enquanto eu caminhava pelo raso córrego cristalino percebi extraordinárias ondulações rematadas por uma luz amarela, como se aquelas águas plácidas fossem arrastadas por correntezas irresistíveis em direção a estranhos oceanos para além deste mundo. Silentes e suaves, frescas e fúnebres, as águas amaldiçoadas pela lua corriam a um destino ignorado; enquanto, dos caramanchões à margem, flores brancas de lótus desprendiam-se uma a uma no vento opiáceo da noite e caíam desesperadas na correnteza, rodopiando em um torvelinho horrível por sob o arco da ponte entalhada e olhando para trás com a resignação sinistra de serenos rostos mortos. 



E enquanto eu corria ao longo da margem, esmagando flores adormecidas com meus pés relapsos e cada vez mais desvairado pelo medo de coisas ignotas e pela atração exercida pelos rostos mortos, percebi que o jardim não tinha fim ao luar; pois onde durante o dia havia muros, descortinavam-se novos panoramas de árvores e estradas, flores e arbustos, ídolos de pedra e pagodes, e curvas do regato iluminado para além das margens verdejantes e sob grotescas pontes de pedra. E os lábios daqueles rostos mortos de lótus faziam súplicas tristes e pediam que eu os seguisse, mas não parei de andar até que o córrego se transformasse em rio e desaguasse, em meio a pântanos de juncos balouçantes e praias de areia refulgente, no litoral de um vasto mar sem nome.



Neste mar a lua odiosa brilhava, e acima das ondas silentes estranhas fragrâncias pairavam. E lá, quando vi os rostos de lótus desaparecerem, anseei por redes para que eu pudesse capturá-los e deles aprender os segredos que a lua havia confiado à noite. Mas quando a lua moveu-se em direção ao Ocidente e a maré estagnada refluiu para longe da orla tétrica, pude ver sob aquela luz os antigos coruchéus que as ondas quase revelavam e colunas brancas radiantes com festões de algas verdes. E, sabendo que todos os mortos estavam congregados naquele lugar submerso, estremeci e não quis mais falar com os rostos de lótus. 



Contudo, ao ver um condor negro ao largo descer do firmamento para descansar em um enorme recife, senti vontade de interrogá-lo e perguntar sobre os que conheci ainda em vida. Era o que eu teria perguntado se a distância que nos separava não fora tão vasta, mas o pássaro estava demasiado longe e sequer pude vê-lo quando se aproximou do gigantesco recife.



Então observei a maré vazar à luz da lua que aos poucos baixava, e vi os coruchéus brilhando, as torres e os telhados da gotejante cidade morta. E enquanto eu observava, minha narinas tentavam bloquear a pestilência de todos os mortos do mundo; pois, em verdade, naquele lugar ignorado e esquecido reuniam-se todas as carnes dos cemitérios para que os túrgidos vermes marinhos desfrutassem e devorassem o banquete.



Impiedosa, a lua pairava logo acima desses horrores, mas os vermes túrgidos não precisam da lua para se alimentar. E enquanto eu observava as ondulações que denunciavam a agitação dos vermes lá embaixo, pressenti um novo calafrio vindo de longe, do lugar para onde o condor voara, como se a minha carne houvesse sentido o horror antes que meus olhos o vissem.



Tampouco a minha carne estremecera sem motivo, pois quando ergui os olhos percebi que a maré estava muito baixa, deixando à mostra boa parte do enorme recife cujo contorno eu já avistara. E quando vi que o recife era a negra coroa basáltica de um horripilante ícone cuja fronte monstruosa surgia em meio aos baços raios do luar e cujos temíveis cascos deviam tocar o lodo fétido a quilômetros de profundidade, gritei e gritei com medo de que aquele rosto emergisse das águas, e de que os olhos submersos avistassem-me depois que a maligna e traiçoeira lua amarela desaparecesse.



E para escapar a essa coisa medonha, atirei-me sem hesitar nas águas pútridas onde, entre muros cobertos de algas e ruas submersas, os túrgidos vermes marinhos devoram os mortos do mundo.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Desejados do mês: Maio & Junho

Começando o mês, com os lançamentos dos meses de Maio e alguns de Junho. Tem vários livros interessantes, vamos ver?

O Último Adeus (DarkLove)

  
O Último Adeus é narrado em primeira pessoa por Lex, uma garota de 18 anos que começa a escrever um diário a pedido do seu terapeuta, como forma de conseguir expressar seus sentimentos retraídos. Há apenas sete semanas, Tyler, seu irmão mais novo, cometeu suicídio, e ela não consegue mais se lembrar de como é se sentir feliz. 


O divórcio dos seus pais, as provas para entrar na universidade, os gastos com seu carro velho. Ter que lidar com a rotina mergulhada numa apatia profunda é um desafio diário que ela não tem como evitar. E no meio desse vazio, Lex e sua mãe começam a sentir a presença do irmão. Fantasma, loucura ou apenas a saudade falando alto? Eis uma das grandes questões desse livro apaixonante. 



O Último Adeus é sobre o que vem depois da morte, quando todo mundo parece estar seguindo adiante com sua própria vida, menos você. Lex busca uma forma de lidar com seus sentimentos e tem apenas nós, leitores, como amigos e confidentes.


À Margem do Lago

O novo romance da autora best-seller de Água Para Elefantes.

Após uma festa de ano-novo da alta sociedade na Filadélfia em 1944, Madeline Hyde e seu marido Ellis são expulsos de casa pelo pai dele, um rico ex-Coronel das forças armadas, já bastante envergonhado pela incapacidade do filho em ir para a guerra. Com a ajuda do melhor amigo, Hank, Ellis chega à conclusão que a única maneira de reconquistar os favores do pai é ser bem-sucedido em algo que o Coronel falhou no passado: caçar o famoso monstro do Lago Ness. Maddie, relutantemente, cruza o oceano Atlântico com eles, deixando para trás seu aconchegante e protegido mundo. O trio chega a um vilarejo distante nas Terras Altas da Escócia, onde são desprezados pelos moradores locais. Maddie fica sozinha numa isolada hospedaria, onde a comida é racionada, o combustível é escasso e o carteiro bater à porta pode significar notícias trágicas. Apesar disso, ela começa a se apaixonar pela beleza deslumbrante e a magia sutil do interior escocês, e a amizade com duas jovens mulheres abre seus olhos para um mundo maior do que ela imaginava existir. Maddie começa a perceber que nada é o que parece: os valores que ela mais prezava se mostram insustentáveis, e monstros surgem onde menos se espera.

Quando Finalmente Voltará a Ser Como Nunca Foi
Joachim Meyerhoff

Isso é normal? Crescer entre centenas de pessoas com deficiência física e mental, como o filho mais novo do diretor de um hospital psiquiátrico para crianças e jovens? Nosso pequeno herói não conhece outra realidade - e até gosta muito da que conhece. O pai dirige uma instituição com mais de 1.200 pacientes, ausenta-se dentro da própria casa quando se senta em sua poltrona para ler. A mãe organiza o dia a dia, mas se queixa de seu papel. Os irmãos se dedicam com afinco a seus hobbies, mas para ele só reservam maldades. E ele próprio tem dificuldade com as letras e sempre é tomado por uma grande ira. Sente-se feliz quando cavalga pelo terreno da instituição sobre os ombros de um interno gigantesco, tocador de sinos.

Joachim Meyerhoff narra com afeto e graça a vida de uma família extraordinária em um lugar igualmente extraordinário. E a de um pai que, na teoria, é brilhante, mas falha na prática. Afinal, quem mais conseguiria, depois de se propor a intensificar a prática de exercícios físicos ao completar 40 anos, distender um ligamento e nunca mais tornar a calçar o caro par de tênis? Ou então, em meio à calmaria, ver-se em perigo no mar e ainda por cima derrubar o filho na água? O núcleo incandescente do romance é composto pela morte, pela perda do que já não pode ser recuperado, pela saudade que fica - e pela lembrança que, por sorte, produz histórias inconcebivelmente plenas, vivas e engraçadas.

LoneyAndrew Michael Hurley

Quando os restos mortais de uma criança são descobertos durante uma tempestade de inverno numa extensão da sombria costa da Inglaterra conhecida como Loney, Smith é obrigado a confrontar acontecimentos terríveis e misteriosos ocorridos quarenta anos antes, quando ainda era criança e visitou o lugar.
À época, a mãe de Smith arrastou a família para aquela região numa peregrinação de Páscoa com o padre Bernard, cujo antecessor, Wilfred, morrera pouco tempo antes. Cabia ao jovem sacerdote liderar a comunidade até um antigo santuário, onde a obstinada sra. Smith crê que irá encontrar a cura para o filho mais velho, um garoto mudo e com problemas de aprendizagem. 
O grupo se instala na Moorings, uma casa fria e antiga, repleta de segredos. O clima é hostil, os moradores do lugar, ameaçadores, e uma aura de mistério cerca os desconhecidos ocupantes de Coldbarrow, uma faixa de terra pouco acessível, diariamente alagada na alta da maré. A vida dos irmãos acaba se entrelaçando à dos excêntricos vizinhos com intensidade e complexidade tão imperativas quanto a fé que os levou ao Loney, e o que acontece a partir daí se torna um fardo que Smith carrega pelo resto da vida, a verdade que ele vai sustentar a qualquer preço.
Com personagens ricos e idiossincráticos, um cenário sombrio e a sensação de ameaça constante, Loney é uma leitura perturbadora e impossível de largar, que conquistou crítica e público. Uma história de suspense e horror gótico, ricamente inspirada na criação católica do autor, no folclore e na agressiva paisagem do noroeste inglês.