segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Segunda conto #4 - "Respeitando as formalidades - Neil Gaiman"

Respeitando as formalidades


Como sabe, não fui convidada para o batismo. Deixe isso para lá, você diz. Mas são as pequenas formalidades que mantêm o mundo girando. Cada uma das minhas doze irmãs recebeu um convite, gravado, e entregue Por um serviçal. Pensei que talvez meu serviçal tivesse se perdido.

Poucos convites chegam a mim aqui. As pessoas não deixam mais cartões de visita. E, mesmo quando o faziam, eu lhes dizia que não estava em casa, Deplorando a falta de modos dessas gerações mais novas. Eles comem de boca aberta. Interrompem os outros.

Os bons modos são tudo, e as formalidades. Quando perdemos isso Perdemos tudo. Sem eles, poderíamos perfeitamente estar mortos. Coisas simplórias e inúteis. Aos jovens deveríamos ensinar um ofício, seja lenhador ou tecelão, Aprendendo seu lugar e nele permanecendo. Ser visto, não ouvido. Ser silencioso. 

Minha irmã mais nova está sempre atrasada, e a tudo interrompe. Já eu exijo pontualidade. Disse a ela que nada de bom virá dos atrasos. Disse a ela, Quando ainda estávamos bem, quando ela ainda ouvia. Ela riu. Alguém poderia dizer que eu não devia ter aparecido sem ser convidada, Mas é preciso ensinar lições às pessoas. Sem isso, ninguém jamais vai aprender. As pessoas são sonhos, estranheza e falta de jeito. Furam seus dedos, Sangram e roncam e babam. A boa educação é silenciosa como um túmulo, Imóvel, rosas sem espinhos. Ou lírios brancos. As pessoas precisam aprender. 

Inevitavelmente, minha irmã chegou atrasada. A pontualidade é a boa educação dos príncipes, Isso, e convidar todas as madrinhas em potencial para o batismo. Disseram ter pensado que eu estava morta. Talvez esteja. Não consigo mais lembrar. Ainda assim, era preciso respeitar as formalidades.

Eu teria tornado o futuro dela tão organizado e educado. Dezoito é idade suficiente. Mais que suficiente. Depois disso, a vida vira uma bagunça. Amores e corações são coisas muito confusas. Batismos são ocasiões agitadas, e barulhentas e rancorosas, Tão ruins quanto casamentos. Convites se perdem. Haveria discussões envolvendo precedência e presentes. 

Teriam me convidado para o funeral. 


* Esse conto foi retirado do livro, Alerta de Risco do autor Neil Gaiman publicado no  Brasil  no ano de 2016,  pela editora Intrínseca

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

O que eu quero para 2017 *Metas*

Ano novo, metas novas. Separei algumas coisas que eu desejo muito conseguir realizar aqui no blog, e na minha vida. Nada melhor do que essas metinhas para nos organizamos. Bora lá? 


1 - Ler 80 livros 


No ano de 2016 eu me propus a ler 40 livros, bati essa meta (eu acho, porque alguém sempre esquece de marcar os livros lidos no skoob.) Nesse ano de 2017, tentarei muito e com todo o empenho, ler o dobro. Vamos ver se consigo. 




2 - Ler mais clássicos


É muito complicado para um leitor assíduo não se preocupar com a leitura de livros muito comentados e também em ler os clássicos. Mas como todos os anos e todos os meses, dezenas de livros novos são lançados, é normal não conseguirmos manter o foco nas metas literárias. Mesmo porque a leitura de clássicos, normalmente, demandam mais tempo de leitura ou apoios de outros livros para que possamos absorver o máximo que estes tem para nos dar. Mas mesmo assim, esse ano irei tentar ler ao menos 30% de clássicos desse montante de 80 livros, o que deve girar em torno de uns 37 livros, mais ou menos. 



3- Ler mais HQ's e Mangás


Pra quem não sabe (e quer saber), sou a louca do anime. Além de sempre ter gostado de ler, um dos meus primeiros amores foram os animes. Agora estou tentando também me aventurar no mundo dos Mangás, e juntamente com eles na leitura de HQ's, pretendo esse ano ler ao menos um mangá ou HQ no mês, fazendo resenha sobre eles aqui também. 


5 - Comentar séries e Animes favoritos da temporada



Falando nisso, pretendo ainda comentar aqui sobre os animes que assisti durante o mês. Ou seja, estou me propondo a ver um anime por mês, bem como uma série. 


4 - Fazer mais resenhas para o blog 

Pretendo também, tentar mante o ritmo das resenhas aqui. Será que a neguinha aqui consegue? Vamos ver, não é?



É isso, quais são as metas de vocês? 

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Lançamentos do mês de Janeiro

Como todo inicio de mês os lançamentos nos deixam com o caçarão aos saltos de animação, e ao mesmo tempo com o cérebro a toda refreando o impulso da compra dos mesmos kkkk. Então, vamos ver quais os lançamentos de janeiro? 


O primeiro livro é essa coisa fofa aqui, eu 
já vi o filme e fiquei louca da vida para ler o livro que originou o mesmo, será lançado em Janeiro agora, contendo 320 páginas. E essa capa? Muito amor.


Cinco mulheres e um homem se reúnem para debater as obras de Jane Austen na Califórnia do início dos anos 2000 e acabam descobrindo, entre casamentos frustrados, arranjos sociais e afetivos, que suas vivências não são assim tão diferentes das experimentadas por Emma ou outras personagens da escritora britânica que tão bem descreveu a sociedade de sua época, dois séculos atrás. No livro, que figurou na lista do mais vendidos do The New York Times e deu origem ao filme homônimo estrelado por Kathy Baker e Emily Blunt, a premiada escritora norte-americana Karen Joy Fowler disseca as relações contemporâneas com acuidade, humor e ironia dignos da autora de Orgulho e preconceito e outras obras que continuam fascinando leitores de todas as idades. Uma homenagem a uma das maiores escritoras da língua inglesa e uma deliciosa comédia de costumes dos nossos tempos.


Agora, entrando num lado mais Sci-fi, temos o Crave e Marca que parece prometer, um calhamacinho de 480 páginas que será lançado também pela Rocco. 

Num planeta em guerra, numa galáxia em que quase todos os seres estão conectados por uma energia misteriosa chamada “a corrente” e cada pessoa possui um dom que lhe confere poderes e limitações, Cyra Noavek e Akos Kereseth são dois jovens de origens distintas cujos destinos se cruzam de forma decisiva. Obrigados a lidar com o ódio entre suas nações, seus preconceitos e visões de mundo, eles podem ser a salvação ou a ruína não só um do outro, mas de toda uma galáxia. Primeiro de uma série de fantasia e ficção científica, Crave a marca é aguardado novo livro da autora da série Divergente, Veronica Roth, que terá lançamento simultâneo em mais de 30 países em 17 de janeiro, e surpreenderá não só os fãs da escritora, mas também de clássicos sci-fi como Star Wars.








Em seguida, no clima de verão a Intrínseca vai lançar  uma coleção de contos que remetam essa estação tão gostosa. Aquele livrinho leve, perfeito para ler após uma ressaca literária. 

Bem-vindos à estação mais ensolarada e apaixonante de todas! No verão, somos todos iguais, diz um dos personagens do conto “Mil maneiras de tudo isso dar errado”. No Brasil, nos Estados Unidos ou em qualquer lugar do globo, uma coisa é certa: no verão, nossos corações ficam mais leves, mais corajosos, impetuosos e confiantes — talvez por isso esta seja a estação perfeita para se apaixonar... e Aconteceu naquele verão é o livro ideal para quem adora histórias de amor.
Mas essa coletânea tem algo ainda mais especial. Algumas histórias têm uma pitada de estranheza, de mistério, um toque sobrenatural. Em “Cabeça, escamas, língua, calda”, a lagoa de uma cidadezinha é morada de um monstro marinho que só uma menina vê. No intrigante “Inércia”, dois grandes amigos há muito afastados vão se encontrar num quarto de hospital para uma última visita. No belo “O mapa das pequenas coisas perfeitas” é sempre dia 4 de agosto. Presos num loop temporal, dois jovens vão comprovar do que a força do amor é capaz.
A lição é simples: o amor não escolhe lugar nem hora para surgir. Coloque seus óculos escuros e abra sua cadeira de praia, porque neste verão você terá doze motivos para suspirar e se apaixonar.

Por fim, um jovem adulto que me deixou bastante intrigada com o possível mistério que ele se propõe explorar. O livro Branco como a Neve, que será lançado pela editora Novo Conceito. 


Recuperando-se do terror que vivenciou nas mãos da máfia, Lumikki tem a chance de deixar a Finlândia, se livrando das roupas pesadas, das lembranças sombrias... e do perigo. Ela só quer ser uma garota normal, misturar-se à multidão de turistas e aproveitar as férias. Quando Lumikki conhece Zelenka, uma jovem misteriosa que alega ter o mesmo sangue que ela, as coincidências são inquietantes. Rapidamente ela se vê envolvida no mundo triste daquela mulher, descobrindo peças de um mistério que irá conduzi-la a uma seita secreta e aos mais altos escalões do poder corporativo. Para escapar dessa trama asfixiante, Lumikki não poderá fazer tudo sozinha. Não desta vez.








Então, animados com os lançamentos? A maioria dos livros estão entre 30 à 40 reais. Então, vamos começar a juntar dinheirinho que esse ano promete... promete muita falência. Me contem nos comentários quais os lançamentos que vocês estão interessados e que posso não ter colocado aqui. 



segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

A volta do Segunda Conto #3 "Um calendário de contos" - Neil Gaiman

Ano novo, e a volta da desaparecida aqui. Para começar as postagens e o ano aqui no blog, decidi iniciar com a volta do projetinho Segunda Conto, além de tentar postar contos nas segundas, ao menos em duas a três  segundas-ferias  do mês, todo começo de mês receberemos a brilhante visita de nosso amigo, Neil Gaiman com os seus contos maravilhosos. Vamos nessa?


                                                Conto de janeiro



VAPT!

— É sempre assim?
O jovem parecia desorientado. Olhava ao redor pelo cômodo, sem foco.
Aquilo o acabaria matando, se não tomasse cuidado.
Doze deu tapinhas em seu ombro.
— Não. Nem sempre. Se tivermos algum problema, ele virá dali, no alto.
Ele apontou para uma porta de sótão, no teto. A porta estava mal encaixada no
batente, fechada feito um olho que espera na escuridão atrás dela.
O jovem assentiu. Então, perguntou:
— Quanto tempo temos?
— Juntos? Talvez mais uns dez minutos.
— Teve uma coisa que eu perguntei várias vezes na Base, mas ninguém
respondia. Disseram que eu veria com meus próprios olhos. Quem são eles?
Doze não respondeu. Algo havia mudado, muito discretamente, na escuridão
do sótão acima deles. Trouxe o dedo até os lábios, e então ergueu a arma,
indicando ao jovem que fizesse o mesmo.
Eles despencaram do buraco do sótão: cinzentos como tijolos e verdes como
bolor, dentes afiados e ágeis, tão ágeis. O jovem ainda estava procurando o
gatilho quando Doze começou a atirar; ele os acertou, todos os cinco, antes que o
jovem conseguisse dar seu primeiro disparo.
Olhou para a esquerda. O jovem tremia.
— Aí está — disse.
— Acho que a pergunta é: o que são eles?
— Quem ou o quê. Dá no mesmo. São o inimigo. Escorregando pelos
contornos do tempo. Agora, na transferência, vão sair em grande número.
Desceram juntos as escadas. Estavam numa pequena casa de subúrbio. Havia
uma mulher e um homem sentados à mesa da cozinha, sobre a qual repousava
uma garrafa de champanhe. Não pareciam reparar nos dois homens
uniformizados que atravessaram o cômodo. A mulher estava servindo a bebida.
O uniforme do jovem era bem passado, azul-escuro, e parecia nunca ter sido
usado. A ampulheta anual ficava presa ao cinto, cheia de areia clara. O uniforme
de Doze estava desgastado e desbotado, numa coloração azul-cinzenta,
remendado onde havia sido cortado, rasgado ou queimado. Chegaram à porta da
cozinha e...
Vapt!
Estavam do lado de fora, numa floresta, em algum lugar muito frio.
— ABAIXE-SE! — bradou Doze.
Algo afiado passou por cima de suas cabeças e se chocou contra uma árvore
atrás deles.
— Você não disse que, às vezes, era diferente? — ironizou o jovem.
Doze deu de ombros.
— De onde estão vindo?
— Do tempo — respondeu Doze. — Estão se escondendo atrás dos segundos,
tentando entrar.
Na floresta perto deles, alguma coisa fez umpf, e um enorme pinheiro
começou a arder com uma chama verde feito o cobre.
— Onde estão?
— Acima de nós outra vez. Costumam ficar acima ou abaixo da gente.
Desceram como faíscas de um sinalizador, lindas e brancas e possivelmente
um pouco perigosas.
O jovem estava pegando o jeito da coisa. Dessa vez, os dois atiraram juntos.
— Eles o informaram dos detalhes da missão? — indagou Doze.
Quando aterrissaram, as faíscas pareciam bem menos lindas e muito mais
perigosas.
— Na verdade, não. Só disseram que seria por um ano.
Doze recarregou rapidamente a arma. Tinha cabelos grisalhos e cicatrizes. O
jovem mal parecia ter idade suficiente para pegar uma arma.
— Explicaram a você que um ano seria uma vida inteira?
O jovem balançou a cabeça em negativa. Doze se lembrou de quando era
assim tão novo, de uniforme limpo e intacto. Será que um dia ele fora tão
inocente? De expressão tão ingênua?
Cuidou de cinco dos demônios faiscantes. O jovem deu cabo dos três que
restavam.
— Então é um ano de combate.
— Segundo a segundo — disse Doze.
E...
Vapt!
As ondas quebravam na praia. Estava quente, janeiro no hemisfério sul. Mas
ainda era noite. Acima deles, fogos de artifício nos céus, imperturbáveis. Doze
conferiu a ampulheta anual: restavam apenas alguns grãos. Estava quase
terminado.
Correu os olhos atentos pela praia, as ondas, as rochas.
— Não estou vendo — declarou.
— Eu estou — disse o jovem.
Enquanto ele apontava, algo imenso saiu do mar, maior do que a imaginação
era capaz de conceber, uma vastidão espessa e malévola, cheia de tentáculos e
garras, e rugia conforme se erguia.
Doze apanhou a bazuca que trazia nas costas e apoiou-a sobre o ombro.
Disparou e observou as chamas florescerem do corpo da criatura.
— O maior que já vi — disse. — Talvez tenham guardado o melhor para o
final.
— Ei — retrucou o jovem —, estou apenas começando.
Então veio na direção deles, as garras de crustáceo se agitando e pinçando,
tentáculos açoitando, a grande boca abrindo e fechando ao léu. Saíram correndo
em direção ao alto da ribanceira de areia.
O jovem era mais rápido que Doze: era novo, mas às vezes isso é uma
vantagem. O quadril de Doze doía, e ele tropeçou. Seu último grão de areia
passava pela ampulheta anual quando algo — um tentáculo, pensou ele —
envolveu sua perna, e ele caiu.
Olhou para cima.
O jovem estava de pé na ribanceira, com os pés bem firmes, conforme
ensinavam no treinamento, empunhando uma bazuca de modelo desconhecido
— algo criado depois de sua época de treino, Doze supôs. Começou a se despedir
mentalmente enquanto era arrastado de volta para a praia, areia arranhando o
rosto, e, então, uma explosão abafada, e o tentáculo foi arrancado da sua perna
com um puxão quando a criatura foi lançada de volta ao mar.
Ele caía pelo ar quando o último grão desceu e a Meia-Noite o levou.
Doze abriu os olhos no lugar para onde vão os anos passados. Catorze o ajudou
a descer do palco.
— Como foi? — perguntou Mil Novecentos e Catorze.
Ela usava uma saia branca que chegava ao chão e longas luvas brancas.
— Estão ficando mais perigosos a cada ano — disse Dois Mil e Doze. — Os
segundos, e aquilo que espreita por trás deles. Mas gostei do novato, acho que ele
vai dar conta.




* Esse conto foi retirado do livro, Alerta de Risco do autor Neil Gaiman publicado no  Brasil  no ano de 2016,  pela editora Intrínseca